O Círculo da Canção

Continuando:

Finn termina por hora seus estudos, e decide sair da torre para esperar por Ashtar.
Sente que conquistara um pouco mais da confiança do pequeno dragão, que volta a se abrigar na mochila.
Mas ao caminhar para a entrada, o enorme worg dormia pesadamente bloqueando a porta.
Além dele, um jovem drow atiçava o fogo na lareira.

Finn observa se há outra saída naquela sala e se não houver, se dirige ao jovem drow.

- Boa noite! Há alguma outra saída da torre. Não quero atrapalhar o sono de seu amigo aqui.

O drow ri, dizendo:
- Ele provavelmente está fingindo. Infelizmente é a única saída. Ele deve querer te segurar aqui até More voltar. Eu não mexeria com ele. Nem More consegue controlá-lo.

Grrrrrrrrr

O worg força um "ronco" mais alto.

Finn ri...

- Então ele terá que aprender a usar magia... Mas aproveitando que estou "preso" na torre... Porque não conversamos jovem. Me conte como vieram para essas terras?

- Olori nos resgatou das garras de Lolth. Sua canção foi ouvida pelos nossos guias, e nos trouxeram em segurança até a vila, onde ele nos acolheu. Mas ainda é cedo pra saber se ficaremos todos. Com tantos perigos, há quem já fale em partir.

O worg resmunga:
- Bundões.

- Compreendo e hoje atraiu ainda mais refugiados. Sinceramente não sei onde ele pensa em acomodar tantas pessoas. O pequeno vilarejo não se mostrou muito acolhedor no momento. Auxiliei como pude hoje, mas e como ficará daqui em diante, pois se pensarmos ainda precisa se pensar que há diversas outras necessidades para esse povo. Comida e entre outras. Entretanto não recomendo ninguém partir neste momento, pois há forças se movimentando e criaturas escusas que ainda rondam parte da região. Recomendo que fiquem até a situação se acalmar, para depois pensarem no que possam fazer.

Finn faz um pausa e depois olhando bem nos olhos do jovem e pergunta: - O que você e sua família pensam em fazer? Vocês confiam em Olori?

Sendo encarado pelo elfo, o jovem drow engole seco, e responde tentando ser firme:
- Confio até onde se pode confiar em alguém que conhecemos a tão pouco tempo. Ele nos recebeu quando outros nos perseguiram, ele abriu as portas e fez uma aliança com o lorde local para que permanecêssemos, então por hora, eu o vejo como alguém tentando liderar e, como você mesmo disse, lidar com a chegada de tanta gente. Mesmo que ele fosse humano, seria um atrativo de problemas caminhar com tantos vindo à sua sombra. Ele precisa entender seu papel, ou nomear um líder que o represente. Shedan não comanda, e nem quer, e não temos uma chefia. Então ainda somos uma comunidade fraca. Alguns de nós respondem até mesmo ao general Amarkill, apenas por conforto e segurança. Mas as próximas noites serão decisivas. Se Olori conseguir assegurar a região, e se os druidas aceitarem nossa presença, poderemos ficar. Caso contrário, devemos partir.

Finn se levanta e tira de seu manto uma caneca de chá e entrega ao rapaz. - Se acalme jovem, só estamos conversando, se não se sentir confortável em me contar certas coisas não se preocupe. Não estou aqui para condenar ninguém. Talvez eu até possa ajudar vocês. Na verdade estou há pouquíssimos dias nessas terras e já enfrentei alguns problemas. Ao seu ver não há alguém na sua comunidade disposta em estar na liderança? Em que você confia nesse momento entre vocês?

Ele aceita o chá, mais intimidado do que a vontade, e diz:
- Acho que se não for Shedan ou olori, a maioria de nós confia mais em Varla. Ela está na vila auxiliando na cura de feridos. O curandeiro deles desapareceu, um tal de "Linguiça Podre", é como o chamam. Ela e sua casa são os mais organizados e bem quistos pelos habitantes locais. O resto de nós, aprendizes e renegados, ainda somos párias.

Finn sente uma fungada no cangote, e o drow se assusta, recuando e esbarrando na lareira.

Ao se virar, vê a cara medonha do worg bem de frente à sua.
Ele diz, numa voz gutural:
- O que está tramando, ELFO??

Finn momentaneamente se assusta... Retoma o fôlego e então diz em tom de deboche ao worg.

- Olha o temos aqui... Um grande lobo falante... Não que seja uma novidade, mas é algo raro de se ver...

Então voltando a seriedade respondo: - Apenas auxilia-lós a crescer e terem um lugar seguro para viverem se realmente pretendem viver longe das teias de L....

O worg rosna furioso, aproximando os dentes de seu rosto, e diz, irritado:
- Quero saber por que debocha tanto de Olori?

Finn se mostra calmo e fixa o olhar no worg respondendo:
- Não estou debochando de ninguém. Estou apenas conhecendo a realidade do local e mostrando outras alternativas para que todas possam coexistir em paz e segurança com posso observar. Agora se pensa em me atacar por estar conversando, não lhe recomendo, pois não quero machucar você.

Finn contorna o worg e chegando na porta diz: - Tenham uma boa noite!

Ao tentar contornar, o worg segue recuando, encostando a bunda enorme na porta e sentando, impedindo a abertura, e diz:
- Ainda quero saber seus interesses com Olori. Saiba que ele é MEU servo.

Olha com cara de deboche para o worg e digo: - Não tenho interesse nenhum em Olori. Sorte dele em ter um senhor tão preocupado com ele. A única coisa que estou pensando nesse momento é auxiliar essas pessoas que precisam de um lar para viver e deixar que elas possam abraçar essa região como um local seguro para seguirem suas vidas em paz. Agora... Faça a gentileza de deixar eu ir descansar, pois amanhã o dia é curto para tanta coisa que necessito fazer.

Finn olha sério para o worg.

- Ainda não me convenceu. Ninguém faz tanto por seus inimigos. Elfos e drows? Mais fácil ver uma ovelha vivendo ao lado de um lobisomem. Ou... de mim. Hahahahaha!! Vamos lá, verdinho, fale pra mim, por que quer tanto se encaixar?

Finn volta a sentar e olhando para o worg responde:- Me encaixar? Olhe... Neste momento não posso voltar para meu lar e claro, drows naturalmente são vistos como inimigos, mas pelo que pude observar na cerimônia desta noite e por experiências anteriores, além da amizade que tenho com uma drow devota de Eliistraee que não posso deixar de pensar que posso e devo ajuda-los. O rapaz mostrou que eles precisam de orientação e uma direção para seguirem em frente. Sair dessas terras neste momento não considero uma escolha para eles, então por que não ficam nessas aqui, mostrem-se dispostos a ajudar e viver pacificamente. Vejo potencial em alguns e certamente outros não irão quer viver nessas terras e logo seguiram seu rumo, então porque não ajudar e apontar um caminho para esses que querem viver em paz. Tenho bagagem para isso.

- Que você tem uma mala deu pra perceber, e ela fede. Mas se você quer ficar, vai ter que aceitar a liderança de Olori. Ele coordena, mesmo que não saiba o que está fazendo, estes pobres drowzinhos. Pode começar baixando as orelhas e parando de se achar Deus. Aquele druida fedorento e mal veztido, e que ele nunca me ouça dizer isso, me ensonou o valor de escutar. Sugiro que faça o mesmo. Só não te mordi quando tentou bater nele porque eu queria fazer aquilo há tempos e não conseguia. mas não vai ter outra chance. Você está nas terras dele, e deve respeitá-lo. É assim que as coisas funcionam por aqui. Você é a visita numa terra onde os drows prosperam e da qual os elfos fogem. Então aceite seu lugar nessa matilha. Eu já tive minha cota de elfos e sei que são espertos e sabichões, e podem ajudar, e gostei do colorido aí na sua... "bagagem". E ele está certo. APRENDA antes de julgar. Nem o fedelho ali sabe o que diz. Que ele não me escute de novo. Olori sabe o que faz, mesmo que não saiba. E pro resto ele tem o general pra aconselhá-lo. Estamos entendidos? A propósito, meus worgs estão me avisando que o seu menino chegou. Devo afugentá-lo ou estamos entendidos?

Finn levanta-se e encarando olho a olho o worg responde: - Pense da forma que quiser worg e nunca irei aceitar a liderança de um drow que só pensa no próprio rabo e quase matou diversas crianças naquele festival ao qual quis lidar com forças que não sabia. Além disso não estou julgando o que ele fez. Acho justo o que ele fez por todos esses drows até agora, mas ele não é um líder. Nem mesmo você acredita ao certo se realmente ele está fazendo a coisa certa. Vamos dizer que estamos entendidos. Agora deixe meu amigo entrar, pois ainda tenho muita coisa para estudar neste diário velho e mostrar alguns mapas e anotações para ele. Então, como vai ser?

O worg fica em silêncio, e continua sentado barrando a porta.
O drow diz:
- Eu falei. Ele é teimoso demais. Tem que ser do jeito dele. E a propósito, você não pode levar as coisas embora. O diário ou os mapas. pra isso deve esperar More voltar e pedir a ele. Por favor.

O worg sorri monstruosamente, e diz:
- Só porque você pediu "Por favor". E espero não ter que ter esta conversa de novo.

Ele levanta e vai até o meio da sala.
Ao abrir a porta, vê Ashtar chegando, ladeado por dois worgs, e parecia bem ressabiado.

- Venha Asthar! Preciso lhe mostrar algumas coisas importantes e preciso de seus conhecimentos em mapas para decifrar algumas informações importantes.

Finn ampara o amigo e segue até a sala no andar abaixo para conversa e mostrar tudo para ele.

Ashtar, que no início se mostrava empolgado, logo depara com mapas corriqueiros, sem nada de especial.
Prontamente, ele relata tratar-se da região sudoeste dos Picos da espada, uma região rochosa entre as Montanhas da Tempestade e o grande deserto.
Ali, havia uma grande região pantaneira, considerada terra de goblins e bestas terríveis, chamada de "Pântano do mar distante", uma região enorme e coberta por charcos e vegetação apodrecida, esquecida pelo tempo.
Dizem as lendas que na época do Degelo, as águas glaciais ficaram presas entre as rochas e as areias escaldantes do deserto, formando esta vasta e inóspita região, considerada inexpugnável, fonte de inúmeras doenças.
De acordo com os rumores, Talona, a "Deusa Doente", Senhora da Pestilência, teria um santuário em algum lugar na região.
Além disso, nos tempos de Myth Drannor, ali nasceu Moander, o senhor corrompido, uma fera de pestilência capaz de apodrecer até mesmo os deuses, e só foi detido num esforço em conjunto de Angarradth, Lathander, Selune e Yondalla.

Exceto por hordas goblinóides e por exploradores muito esporádicos, ninguém nunca se aventurou por muito tempo nestas terras.

Ashtar fica intrigado com algumas marcas no mapa, dizendo que parecem "marcos", observações de lugares encontrados, mas "mal feitas".
Em outras palavras, o dono do mapa anotou suas descobertas no próprio mapa, mas sem apontar a localização de tais glifos.
Ao passar os olhos pelo diário, ele diz que em nada ajudava senão a desvendar um "mistério", uma lenda dos contos de Shaundakul, conhecida como "O Caminho do Nevoeiro".
De acordo com os contos, haveriam lugares por todo continente que se intercalariam, verdadeiras "falhas" na Trama que se conectavam, e se você soubesse reconhecê-las, poderia trilhar uma verdadeira "trilha de portais", cruzando em horas as distâncias que normalmente demorariam meses para ser percorridas.

A julgar pelo conteúdo do diário, seu autor teria desvendado uma dessas trilhas, que usaria com frequência. Mas que passariam por locais perigosos como o pântano, e até mesmo a Floresta Alta, lar de monstros e aberrações.
Pelo que Finn consegue colher, talvez isto explicasse a falta de pertences na caverna onde o guerreiro foi encontrado. Talvez ali não fosse sua casa, mas uma das paradas da tal Trilha.

Uma falha nos Planos?
Um portal defeituoso?
Um caminho antigo e esquecido?

Haviam muitas possibilidades a serem exploradas.
A esta altura, já passava da meia-noite, e Ashtar estava exausto. Além de copiar o mapa para um de seus próprios cadernos, fizera inúmeras anotações, a maioria das quais nem mesmo Finn era capaz de desvendar.
Eram marcas cartográficas, que só fariam sentido a um especialista no assunto. Mas a forma de anotar, era como se o rapaz estivesse recriando seu caminho, das montanhas até o pântano pelo primeiro "salto".
O resto, teriam de descobrir na prática.

Finn anota todas as informações passadas por Ashtar e então diz: - Obrigado por todo o seu auxílio e por vir prontamente quando lhe chamei.. Sem seu ajuda não teria consigo essas preciosas informações. Fico imaginando seu eu conseguisse para você mapas antigos... Vamos embora e descansar nossas mentes.